Comentários sobre The VVitch (2015)

The VVitch é, para mim, um dos pontos de inversão do terror psicológico ao longo dessa segunda década do século XXI. Lugar antes ocupado por The Blair Witch Project (1999). É interessante perceber que a temática em ambos os filmes é sobre bruxaria, porém, em The VVitch (2015), com um olhar mais contemporâneo. Vale lembrar que os comentários adiante são para quem já assistiu ao filme, então fique ciente que poderá estar repleto de spoilers.

 

Qual o destaque de The VVitch (2015)?

 

Poderia dizer que o primeiro destaque seria para a escrita do próprio “VVitch” com dois “Vs”. Talvez seja só um capricho do autor em emanar a importância da obra diante de vários filmes de terror esquecíveis lançados naqueles anos. Na verdade, está na própria logo do filme, e quis reproduzir para de fato dar esse ar de singularidade.

 

Primeiramente, falando sério agora, é a ausência de recursos batidos como o jumpscare. Aqui não temos mais um terror fast food. Um filme com um roteiro, não tão complexo, mas com um conjunto de elementos que funciona. Às vezes o segredo está na máxima: menos é mais. Nesse sentido, é revigorante ver o uso pontual da antagonista, a bruxa em si, as mínimas aparições em suas diversas formas trazem um impacto indescritível, um dos pontos chaves de inserir o horror na alma de quem assiste.

 

Como não falar da atuação desse filme? Todo o elenco é impecável. Porém, dois pontos se destacam, a atuação das crianças, principalmente de Harvey Scrimshaw, como Caleb, – e sim, você que assistiu ao filme sabe a cena na qual ele se destaca – e a voz surpreendentemente grave de Ralph Ineson, que dá um tom extremamente sombrio e macabro. Uma curiosidade, pra você nerd gamer, Ralph Ineson é o ator que dubla Lorath em Diablo 4. Talvez  essa voz e o desfecho do filme foram os aspectos mais marcantes. Algumas sequências possuem trilhas sonoras arrepiantes, alias o trabalho de som está aterrorizante, no melhor sentido da palavra. O mood do filme é singular, intrigante desde o desaparecimento de Samuel (o bebê) até o final.

 

Cinematografia e um olhar subjetivo

 

Volto a dizer, aqui não há conhecimento técnico sobre o assunto. Contudo, é possível descrever e perceber, de modo geral, alguns aspectos da película. Dito isso, vamos à análise. O filme faz uso de imagens amplas, mostrando a ambientação da região de New England em 1630. O take inícial do filme, logo após a expulsão da família da colônia, é impactante, mostrando uma floresta densa, que a meu ver simboliza o olhar diante da incerteza do desconhecido e selvagem. E é nessa incerteza que se guarda a essência do filme, antagonizando com o aspecto religioso e conservador da família, criando assim, os conflitos entre os personagens. Voltando à estética do filme, vê-se cores escuras, em um tom acinzentado mais preponderante, principalmente quando a família está em cena, em conjunto com a floresta.

O papel da floresta

 

Já notou que a floresta já foi citada várias vezes, né? Sim, ela possui um papel representativo como já foi dito, considero um personagem que contracena silenciosamente com os personagens, apenas evidenciando o medo gritante destes diante das situações.

 

Bruxaria e Feminismo

 

Em The VVitch (2015), a leitura sobre a rejeição de Thomasin, a filha mais velha, pela família, e sua eventual emancipação ao final do filme, mostra o paralelo com a independência da mulher. É curioso ver como as mulheres rejeitas pela sociedade no século 17 sofriam apenas pelo fato de serem sozinhas e isoladas, maculando sua condição a ponto de transformá-las em algo extremamente negativo, anticristão, demoníaco.

 

Black Phillip

 

O demônio toma várias formas no filme. Inclusive, a constatação do mal presente é evidenciada na cena a qual a bruxa sequestra Samuel; seguido do banho que a bruxa se dá com a vísceras do bebê – a sequência que ela sai voando na vassoura com a lua cheia ao fundo, nunca sairá da minha memória, realmente aterrorizante -. Há a bruxa que tenta seduzir Thomasin, retirando sua pureza com o pecado ao beijá-lo. E por final, nosso querido bode preto. Animal caricato e simbólico do satanismo.

É o  um filme para ver e rever, revisitar os detalhes é sempre prazeroso!

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